Prêmio Nobel da Paz apoia o genocídio de Israel e a guerra de Trump contra a Venezuela

Ben Norton

15/10/2025

Publicado em Geopolitical Economy (13/10/2025)

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, María Corina Machado, é uma política venezuelana de extrema direita, envolvida em tentativas de golpe e financiada há décadas pelo governo dos Estados Unidos. Machado defende abertamente a invasão militar norte-americana da Venezuela para derrubar o governo revolucionário chavista do presidente Nicolás Maduro.

Ela é uma figura central na guerra de mudança de regime conduzida por Donald Trump contra a Venezuela. Machado chegou a apoiar as execuções extrajudiciais cometidas pelo exército norte-americano contra venezuelanos em barcos em águas internacionais, repetindo as alegações infundadas da administração Trump de que as vítimas seriam “traficantes de drogas”. Também apoia as sanções unilaterais e ilegais impostas pelos Estados Unidos, que causaram a morte de centenas de milhares de venezuelanos. Além disso, manifesta apoio incondicional a Israel enquanto o regime sionista comete genocídio contra o povo palestino em Gaza.

A concessão do Prêmio Nobel da Paz a uma golpista pró-guerra como Machado revela o grau extremo de hipocrisia do prêmio. Essa contradição, porém, não é nova. Em 1973, Henry Kissinger — um dos maiores criminosos de guerra do século XX, responsável pela morte de milhões em países como Vietnã, Camboja, Laos, Bangladesh e Chile — também recebeu o Nobel da Paz. Em 2009, Barack Obama foi laureado com o mesmo prêmio antes de bombardear sete países durante seu governo: Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália, Síria e Iêmen.

A escolha de María Corina Machado, contudo, é particularmente escandalosa, pois ocorre justamente quando ela apoia o genocídio de Israel em Gaza e trabalha ao lado de Donald Trump para usar a violência e a guerra como instrumentos de mudança de regime na Venezuela.

Machado elogiou publicamente Israel em meio aos massacres contra o povo palestino. Uma comissão da ONU composta por especialistas em direito humanitário internacional declarou que Israel cometeu genocídio em Gaza. Em janeiro de 2025, Machado manteve uma conversa com o chanceler israelense Gideon Sa’ar, na qual expressou “profunda gratidão” ao governo de Israel e afirmou “valorizar imensamente o apoio” recebido.

O regime israelense, acusado de genocídio e liderado por Benjamin Netanyahu — atualmente denunciado ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade —, recusou-se a reconhecer o governo constitucional de Nicolás Maduro, apoiando em seu lugar o golpista Edmundo González, que vive na Espanha e age como representante de Machado.

Em abril de 2024, quando Israel atacou o Irã e recebeu uma resposta defensiva de Teerã, Machado correu às redes sociais para condenar o Irã e reafirmar “solidariedade com o Estado de Israel diante da agressão direta do regime iraniano”. Disse ainda que, se chegasse ao poder em Caracas com o apoio dos Estados Unidos, formaria uma aliança estreita com Washington e Tel Aviv contra o Irã e o povo palestino. Em 2018, publicou uma carta aberta ao primeiro-ministro israelense pedindo que Israel e o governo direitista da Argentina interviessem na Venezuela para “gerar uma mudança de regime”, invocando a chamada “doutrina da Responsabilidade de Proteger”, usada pelos Estados Unidos para justificar a destruição da Líbia em 2011.

A Venezuela rompeu relações diplomáticas com Israel sob os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, ambos defensores históricos da causa palestina e críticos das atrocidades cometidas por Tel Aviv.

A entrega do Prêmio Nobel a Machado é ainda mais ultrajante porque ela se encontra no centro da guerra que o governo Trump conduz contra a Venezuela. Washington realizou múltiplos ataques militares que mataram dezenas de venezuelanos sem julgamento, bombardeando embarcações em águas internacionais sob falsas alegações de tráfico de drogas. Machado apoiou essas ações, bem como as sanções impostas ao país. Em entrevista ao Financial Times, admitiu colaborar com autoridades norte-americanas para derrubar Maduro. O jornal informou que a presença de navios de guerra dos EUA no Caribe incentivou milhares de venezuelanos a aderirem a um movimento clandestino para depor o presidente. Essa mobilização inclui o envio de oito navios de guerra, milhares de soldados e caças F-35 estacionados em Porto Rico — a maior operação militar norte-americana na região desde a invasão do Haiti em 1994.

Machado declarou ao Financial Times que, se assumisse o poder, privatizaria o setor energético e abriria o mercado venezuelano, incluindo o petróleo e os recursos minerais, ao capital estrangeiro. Sua “reputação radical”, segundo o jornal, é eufemismo para sua posição extremista, antidemocrática e abertamente pró-violência.

Trump, por sua vez, chegou a afirmar publicamente que desejava “tomar” a Venezuela e explorar seu petróleo. Em um comício em 2023, lamentou que seu governo não tivesse conseguido “pegar todo aquele petróleo” antes de deixar o cargo.

Após o anúncio do Nobel, Trump revelou em entrevista que recebeu um telefonema de Machado, agradecendo-o e dedicando-lhe simbolicamente o prêmio por sua ajuda em tentar derrubar Maduro.

Machado também defende há anos o endurecimento das sanções ilegais contra a Venezuela, celebrando as medidas impostas por Trump em 2017 como “cirúrgicas e eficazes”. Em 2018, declarou que “o regime só sairá com força” e exigiu “força internacional: mais ações judiciais e sanções”.

Pesquisadores renomados, como Mark Weisbrot e Jeffrey Sachs, calcularam que as sanções dos EUA provocaram a morte de mais de 40 mil venezuelanos entre 2017 e 2018, ao reduzir o acesso a alimentos e medicamentos. Um estudo publicado em 2025 na revista científica The Lancet apontou que sanções econômicas unilaterais causam, em média, mais de meio milhão de mortes por ano em todo o mundo — a maioria de crianças com menos de cinco anos. Os Estados Unidos são responsáveis pela maior parte dessas medidas coercitivas.

Isso significa que a laureada com o chamado “Prêmio Nobel da Paz”, María Corina Machado, defende políticas ilegais que levaram à morte de centenas de milhares de seus compatriotas, incluindo inúmeras crianças.

Documentos revelam ainda que políticos republicanos norte-americanos, entre eles Marco Rubio, Rick Scott, Mike Waltz e María Elvira Salazar, pressionaram o Comitê Norueguês do Nobel para conceder o prêmio a Machado. Hoje, Rubio ocupa simultaneamente os cargos de secretário de Estado e assessor de Segurança Nacional de Trump — posição antes ocupada por Henry Kissinger —, enquanto Waltz é embaixador dos EUA na ONU.

A decisão do comitê norueguês de premiar Machado mostra, mais uma vez, como o Prêmio Nobel da Paz pode servir como instrumento político do império norte-americano, usando cinicamente a retórica da “paz” para legitimar a guerra, a violência e o intervencionismo.

Texto original publicado em Geopolitical Economy.
Tradução livre para o português.

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