Na luta contra o imperialismo dos Estados Unidos, a Nicarágua é um modelo de soberania

Ben Norton

15/10/2025

Publicado em Geopolitical Economy (25/07/2025)

O império norte-americano invadiu a Nicarágua diversas vezes, impôs uma ocupação militar colonial, sustentou uma ditadura fantoche, promoveu guerras de terror e apoiou golpes violentos. Ainda assim, os sandinistas sempre defenderam a soberania de sua nação.

Os Estados Unidos intervieram militarmente em praticamente todos os países da América Latina. A CIA apoiou dezenas de golpes de Estado contra governos de esquerda democraticamente eleitos, em tentativas de impor a hegemonia imperial norte-americana na região e proteger os interesses corporativos estadunidenses.

Hoje, cada vez mais autoridades norte-americanas — especialmente durante os dois mandatos de Donald Trump — invocam a Doutrina Monroe, de 200 anos, para reafirmar que a América Latina seria o “quintal” de Washington, que o império dos EUA deve controlá-la e que China e Rússia não podem manter relações com os países da região.

Diante das constantes violações da soberania latino-americana pelos Estados Unidos, é compreensível que vários governos da região tenham aprofundado suas parcerias com China e Rússia, por enxergarem em Pequim e Moscou aliados que respeitam sua independência e contribuem para o desenvolvimento econômico, ao contrário de Washington, que apenas busca explorá-los.

A história do imperialismo dos EUA na Nicarágua é um exemplo claro dos efeitos devastadores dessa política na América Latina. O país centro-americano foi invadido diversas vezes pelos norte-americanos. O povo nicaraguense suportou ataques incessantes do império dos EUA por séculos. Após a independência da América Central do domínio espanhol, em 1821, Washington rapidamente buscou substituir o antigo império europeu, tentando colonizar a região para explorar seus recursos e sua localização estratégica, beneficiando magnatas como Cornelius Vanderbilt, interessado em construir um canal interoceânico pela Nicarágua.

Em 1855, o milionário e mercenário norte-americano William Walker invadiu a Nicarágua. Convencido da ideologia colonial do “Destino Manifesto”, Walker se autoproclamou presidente do país e restabeleceu a escravidão nos territórios que controlava. A América Central havia abolido a escravidão em 1824, décadas antes dos Estados Unidos, que só o fariam em 1865, após uma guerra civil sangrenta. Walker e seus seguidores acreditavam no expansionismo escravista e buscavam ampliar o império americano. Expulso pelos nicaraguenses, Walker queimou a cidade de Granada antes de fugir.

Mesmo derrotado, o império norte-americano não desistiu de dominar a Nicarágua. Em 1912, os Estados Unidos invadiram novamente o país e instalaram uma ocupação militar que o transformou em colônia informal. Em resposta, o líder revolucionário Augusto César Sandino organizou o Exército em Defesa da Soberania Nacional da Nicarágua e travou uma guerra de guerrilhas contra as forças coloniais, derrotando-as em 1933.

Entretanto, um ano depois, em 1934, Sandino foi traído e assassinado por Anastasio Somoza García, chefe da Guarda Nacional — uma força criada pelos Estados Unidos para manter sua influência no país. Somoza assumiu o poder e fundou uma dinastia ditatorial aliada de Washington. Após seu assassinato em 1956, seu filho Anastasio Somoza Debayle assumiu o comando, mantendo uma relação subserviente com o império norte-americano e reprimindo brutalmente o povo nicaraguense.

Na década de 1970, o povo se levantou em armas contra a ditadura. Inspirado na luta de Sandino, o movimento socialista Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) liderou uma revolução que derrubou Somoza em 19 de julho de 1979, restaurando a soberania nacional.

Mas os Estados Unidos reagiram. A CIA criou grupos paramilitares de extrema direita conhecidos como “Contras”, que assassinaram funcionários do governo, destruíram infraestrutura civil, atacaram escolas e hospitais e cometeram estupros e torturas. Esses grupos foram financiados em parte pelo tráfico de drogas, que alimentou a epidemia de crack nos EUA na década de 1980 — um escândalo denunciado pelo jornalista Gary Webb, posteriormente perseguido e morto em circunstâncias suspeitas.

Em 1984, a Nicarágua processou os Estados Unidos na Corte Internacional de Justiça de Haia, que em 1986 condenou Washington por terrorismo, ordenando o pagamento de reparações. Os EUA ignoraram a sentença e continuaram a guerra. Até hoje, se recusam a indenizar a Nicarágua.

No mesmo ano, o ex-comandante dos Contras, Edgar Chamorro, publicou no New York Times o artigo “O terror é a arma mais eficaz dos Contras da Nicarágua”, admitindo que o grupo era controlado pela CIA e que praticava assassinatos, mutilações e estupros de civis. Embora antissandinista, Chamorro reconheceu que os sandinistas haviam promovido avanços notáveis em educação, saúde e moradia, enquanto os Contras destruíam tudo o que o governo revolucionário construía.

Décadas depois, em 2018, os Estados Unidos voltaram a apoiar uma tentativa de golpe de Estado na Nicarágua, novamente liderada por figuras da oligarquia local, como membros da família Chamorro. O objetivo era restaurar o neoliberalismo, privatizar os serviços públicos e subordinar o país a Washington.

Enquanto isso, a China vem se consolidando como parceira da Nicarágua no desenvolvimento econômico. Pequim apoia a construção do Aeroporto Internacional Punta Huete, o envio de centenas de ônibus modernos, a ampliação de portos e o investimento em energia solar e habitação popular. Em julho de 2025, foi inaugurado o bairro “Nuevas Victorias”, com 920 casas financiadas pela China; mais 720 serão construídas na segunda fase.

Essas iniciativas mostram como a China se tornou um parceiro mais respeitoso da soberania latino-americana, ao contrário dos Estados Unidos, que impõem políticas neoliberais e exploratórias.

Em 19 de julho de 2025, a Nicarágua celebrou o 46º aniversário da Revolução Sandinista, em uma cerimônia massiva em Manágua, com a presença de delegações de países como China, Rússia, Palestina, Vietnã, Venezuela, Cuba, Honduras, Burkina Faso, Argélia, Coreia do Norte e Belarus.

Em seu discurso, a co-presidente Rosario Murillo destacou que “a Nicarágua lutou e derrotou os imperialistas do planeta”, enfatizando a importância sagrada da paz e da defesa da dignidade, da independência e do bem-estar.

O co-presidente Daniel Ortega, por sua vez, reafirmou o papel da Nicarágua na luta internacional contra o imperialismo, expressando solidariedade com Palestina e Irã, denunciando o fascismo como herança do colonialismo europeu e lembrando que o Haiti foi a primeira revolução vitoriosa da América Latina e Caribe. Ortega ressaltou que o imperialismo dos EUA substituiu o domínio espanhol e continua sendo a principal ameaça ao mundo, relembrando os crimes cometidos nos anos 1980 com o financiamento da CIA aos Contras.

Ortega elogiou as revoluções russa e chinesa como inspiração para o sandinismo, chamando Mao Tsé-Tung de “grande líder sempre presente em nossos pensamentos”. Afirmou que China e Rússia são hoje aliadas do Sul Global, ajudando países como a Nicarágua a defender sua soberania frente ao imperialismo ocidental. Criticou a remilitarização da Europa e o uso do veto dos EUA nas Nações Unidas, propondo uma “refundação da ONU” que dê mais voz ao Sul Global.

Encerrando seu discurso, Ortega advertiu que, embora a Nicarágua viva em paz, “o inimigo — o império dos Estados Unidos — nunca descansa: está sempre conspirando, tentando provocar dor e sangue nas famílias nicaraguenses, porque acredita que pode derrotar a revolução”.

Texto original publicado em Geopolitical Economy.
Tradução livre para o português.

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