Outra Elevação nas Relações China–América Latina

Jiang Shixue

Pesquisador Sênior, Instituto Charhar

10/10/2025

No dia 30 de setembro, véspera do Dia Nacional da China, celebrado com grande alegria em 1º de outubro, a Comunidade Andina decidiu conceder à China o status de Estado observador da organização.

Os representantes dos países membros da Comunidade Andina destacaram que a China tem desempenhado um papel importante na comunidade internacional e na governança global; por isso, sua admissão como Estado observador da Comunidade Andina possui um significado histórico relevante. Eles expressaram o desejo de aproveitar essa oportunidade para aprofundar ainda mais a cooperação bilateral, permitindo que a China contribua de forma mais ampla para o processo de integração econômica e para o desenvolvimento sustentável da região andina.

O representante chinês, Zhang Liping, encarregado de Negócios interino da Embaixada da China na Colômbia, elogiou a decisão da Comunidade Andina. Ele afirmou que a China está pronta para trabalhar em conjunto com os países da América Latina, incluindo as nações andinas, para impulsionar os “Cinco Grandes Projetos” destinados à construção de uma comunidade de futuro compartilhado entre a China e a América Latina: o Projeto da Unidade, o Projeto do Desenvolvimento, o Projeto da Civilização, o Projeto da Paz e o Projeto dos Laços entre os Povos. Essa cooperação visa estabelecer um novo paradigma de relações baseado no respeito mútuo e em resultados de benefício recíproco, trazendo, em última instância, maiores vantagens para os povos de ambas as partes.

Fundada em maio de 1969, a Comunidade Andina é uma importante organização sub-regional de integração econômica na América Latina. Com sede em Lima, capital do Peru, ela conta atualmente com quatro Estados membros plenos: Peru, Equador, Colômbia e Bolívia.

O significado da admissão da China como Estado observador da Comunidade Andina pode ser entendido de várias maneiras. Em primeiro lugar, ela impulsionará a cooperação Sul–Sul. Os Estados membros da Comunidade Andina fazem parte do Sul Global, ou seja, o grupo de países em desenvolvimento, do qual a China também é integrante natural. O fortalecimento da cooperação entre a China e a Comunidade Andina, portanto, certamente promoverá novos avanços na cooperação Sul–Sul. Esse aspecto é particularmente importante em um contexto de crescente hegemonismo e unilateralismo, que tornam ainda mais urgente a necessidade de uma colaboração solidária entre os países do Sul Global.

Em segundo lugar, permitirá que a China e os países da Comunidade Andina exerçam maior influência nos assuntos internacionais. Os países andinos mantêm posições convergentes em fóruns multilaterais, como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio, e já contribuem para a defesa da paz mundial e para o aperfeiçoamento da governança global. Com a China como Estado observador, o diálogo e a cooperação entre as partes serão fortalecidos, permitindo aproveitar de forma mais eficaz as vantagens mútuas e defender em conjunto os interesses coletivos do Sul Global.

Em terceiro lugar, a medida elevará a relação entre a China e os países andinos a um novo patamar. Esse impacto positivo se manifestará em diferentes áreas.

No campo econômico e comercial, todos os países da Comunidade Andina já assinaram documentos de cooperação no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota com a China, por meio de diversos mecanismos. Com o novo status de observador, as partes poderão aprimorar a coordenação política e garantir que a iniciativa traga benefícios ainda maiores à região andina. A China já mantém acordos de livre comércio com o Peru e o Equador e, no futuro, poderá trabalhar de forma mais ativa com a Colômbia e a Bolívia para avaliar a viabilidade de negociações de acordos bilaterais semelhantes. Além disso, a região andina é rica em recursos naturais. Com a China como parceira mais próxima, será possível desenvolver esses recursos de maneira mais eficiente e produtiva, seguindo o princípio da cooperação de benefício mútuo.

No campo cultural e social, embora o intercâmbio entre a China e os países andinos tenha avançado consideravelmente, ele ainda não atingiu todo o potencial previsto no marco da Iniciativa Cinturão e Rota. Com o novo status, o fortalecimento da cooperação política e econômica impulsionará também o progresso nos intercâmbios culturais e entre povos, criando uma base mais sólida para a colaboração futura.

Em termos diplomáticos, a China mantém relações com a América Latina tanto em nível bilateral quanto coletivo. O Fórum China–CELAC, criado conjuntamente pela China e pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, representa o ponto mais alto dessa cooperação multilateral. Como organização sub-regional de destaque, a Comunidade Andina possui peso considerável dentro da CELAC. Assim, a admissão da China como Estado observador elevará a cooperação China–América Latina a um novo patamar.

É importante observar que os Estados Unidos, que costumam encarar com cautela e desconfiança o avanço das relações entre a China e a América Latina, dificilmente acolherão com simpatia o fortalecimento dos laços entre a China e a Comunidade Andina. Consequentemente, é provável que tentem lançar mão de táticas de provocação e divisão. Diante disso, a China e os países andinos devem manter-se vigilantes e firmes em seu compromisso de cooperação.

Jiang Shixue

Jiang Shixue é Pesquisador Sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS). É também Professor Distinto da Universidade de Xangai, da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau e da Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan, além de Professor Convidado da Universidade de Anhui, da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang e da Universidade de Ciência e Tecnologia de Chongqing. Atualmente, exerce os cargos de Vice-Presidente do Conselho Chinês de Especialistas em Think Tanks dos BRICS, Vice-Presidente da Sociedade Chinesa de Economias Emergentes, Vice-Presidente do Comitê Consultivo da Associação de Universidades Chinesas para os Estudos Regionais, Co-Presidente da Associação para Pesquisa sobre Pequenos Estados Insulares e Conselheiro da Associação Chinesa de Estudos da América Latina e da Associação Chinesa de Estudos da História da América Latina. Entre 2023 e 2025, foi Presidente do Conselho de Estudos Latino-Americanos da Ásia e Oceania. De 1997 a 2008, atuou como Vice-Diretor-Geral do Instituto de Estudos Latino-Americanos da CASS e, de 2009 a 2016, como Vice-Diretor-Geral do Instituto de Estudos Europeus da CASS. No mesmo período, foi também Chefe da Divisão de Estudos Internacionais do Comitê de Professores da Escola de Pós-Graduação da CASS. Seus campos de pesquisa incluem política externa chinesa, relações internacionais, economia mundial, governança global, América Latina e Caribe, Europa, BRICS e economias emergentes.

Contato

Nome
Sobrenome
E-mail
Mensagem
The form has been submitted successfully!
There has been some error while submitting the form. Please verify all form fields again.

Recomendações

Os logotipos exibidos são propriedade de seus respectivos detentores. Uso meramente informativo.